sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Galope do Tempo (Lucas Dulce)


A mão gelada da lembrança
me alcança o ombro e me puxa,
me repuxo como lança e esqueço
fugindo do frio do passado
passo os olhos nesse eterno começo
e já não mais meço o acaso.
Deixo o fluxo do eterno presente
penetrar nos atos e momentos
nas entranhas da vida
entre estranhas carnes me escarneço
fujo do assombro e de novo me esqueço
lançando o laço no pescoço
do bicho feio que é a mente
brava fera que me morde
me esfriando a espinha
espinhando-me o peito
nesse frio do umbigo.
Aquele rosto branco de anjo
e a pele macia de uva
me uiva no ouvido e não vejo
se sou eu mesmo que corro
ou morro de medo da bela,
bela fera que me fere à ferro
nesse fogo no peito que é a paixão,
passo à largos passos e não penso
nesses tempos já idos de outrora
que em meus sonhos agora me apavora.
É a memória essa velha que me namora
branca pele de defunto, feios lábios de amora.
Vermelho-sangue de rubro vestido
me joga num poço que peço socorro!
Reviro aflito no leito, suando afoito,
prefiro o frio lá fora
que esse quente em meu peito
esse vazio do leito.
Me vem o vento do agora
e me tira o pó do passado
entrevado nos trapos do tempo.
Acordo, lúcido eu vejo
que viver é agora!
O passado enterra seus mortos
e nessa árvore da Vida
tantos erros e acertos
são todos esses galhos tortos.

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