quarta-feira, 18 de maio de 2011
Canção do Anacoreta - Lucas Dulce
Do alto da montanha da resignação
lancei meu olhar lacrimejante
ante os olhos suspeitos de quem revejo,
refeito em pó e pedras me balanço.
Lançando ao espaço um grito de desespero,
tremendo à espera de um acaso, um lampejo.
Um cortejo de sombras me cruza o caminho
e elevando suas frontes medonhas me indagam:
"O que faz tu entre os humanos?
Não sabes que estás morto como nós?"
O frio de novo me alcança
e me lança um grito o demônio do medo
amaldiçoando meus sonhos e anseios.
A Velha da Foice me sorri com caveiras:
"VEnha a mim,tú que me pertences,
meu hálito de morte é o que te embala.
Não provarás mais o beijo quente dos humanos,
retira-te dos vivos,tú que és mais vivo do que estes!
Teu vôo faz de ti um espectro entre os adormecidos"
Amolecido lanço meu pranto,envolto no manto
de anelos e feitos esquecidos.
A Serpente me espreita,sedutora e faceira
afastando de mim a caveira e me enrola
esfregando em mim suas escamas
me lembrando de camas e damas,
aquecendo meu peito
secando meu pranto e me confessa:
"Tu que andas sem pressa,
de ti esperam uma promessa,
seduzem a ti estas sombras,
por que vivem de seus escombros
te atormentam com assombros.
Mas vivem sobre seus ombros.
Tu, Titã de leves palmas
é o que trás fogo a estas almas,
e espanta da penumbra
os que rangem os dentes
doentes caninos que fogem
cingindo o pescoço de arame em brasa.
Não sai daqui, baixe tua asa
é ainda este mundo doentio tua casa.
Seca teu pranto e brade
aos Deuses dos quatro cantos
que teu canto lhes acalanta,
és o Filho querido de Aurora."
Rompe-se as Trevas
travam-se as janelas da noite
ergue-se o Sol, Pai dos Sábios
e assobia uma canção aos que sobem
aos montes,fortes como Sansão.
Ergo os braços em frente ao Luzente
e berro, rompendo o silêncio com um ferro:
" Acordai vós que dormem,
Levantai vós que esperam.
Sóis Deuses,
rompam as correntes
voêm alto, queridos irmãos
unamos nossas mãos.
É chegada uma Nova Era!
Livrem-se da fraqueza,esta Quimera!
Acordai diante de um novo dia!
Brilha sobre vós o novo,
o Eterno,o Absoluto, o Infinito nos espera!"
terça-feira, 17 de maio de 2011
Uma Noite no Inferno (Lucas Dulce)
Serpentes envoltas em pedras
solitário e sorrateiro somo as perdas.
A fumaça do tabaco tenta-me os pulmões
o tilindar de taças tortas se mistura
ao estouro de gargalhadas e lamúrias
mulheres, donzelas possuídas
por bruxas insaciáveis a me seduzir
subindo em minhas pernas pelos pêlos.
Anjos disfarçados de demônios
Demônios se sentindo como Anjos.
Ao som de canções descompassadas
evocando um passado penoso, pesado.
Antigos amigos caídos me choram os pesares.
O frio corta como se fosse navalha
minhas retinas cansadas de desmazelo
mesmo que ainda zele por minha alma,
há nesse desespero uma falsa calma
que levo comigo para a cama.
Caminho entre tropeços por tropas de cavalos mancos.
Ao som percursivo de cascos de bode.
Sangue e falsos sorrisos se vendem aos baldes.
Ressoam suspiros e assopros
do bafo quente dos traumas que me sobram.
Se soubesse que a saída era em frente
não teria freado olhando para trás.
Travo agora uma batalha comigo frente ao poço
de lama e lamentações,
ações tardias de devaneios breves.
Como um Prometeu Acorrentado
na dura rocha da matéria
procuro o Éter que me levantará o Espírito.
Suspiro vagaroso e respiro
subindo a espiral do dorso da Terra
cravada na Rocha da MOntanha
e por Amor à humanidade doente
me tardo a apagar as sete marcas de minha fronte,não vejo Dante, não mergulho no Aqueronte.
Pedindo socorro, olho aos céus e corro.
Carregando uma cruz de aço e espinhos.
Esperando a donzela perfeita que irá me guiar.
Beatriz de lábios rubros
que nas asas da Aurora
levará meu ser aos campos de outrora.
De onde trago lembranças de um antigo lar.
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